por Dr. Noa Kageyama, originalmente publicado no blog do site The Bulletproof Musician
WHAT EVERY MUSICIAN OUGHT TO KNOW ABOUT STAGE FRIGHT
WHAT EVERY MUSICIAN OUGHT TO KNOW ABOUT STAGE FRIGHT
Vídeo do J. Heifetz imitando alguém nervoso
Pense na sua última audição ou apresentação. O que você se lembra de
sentir, momentos antes de entrar no palco?
Coração batendo forte no peito? Frio na barriga? Mãos frias e úmidas? Se
sentiu tonto, tenso, fraco ou trêmulo?
Talvez você tenha tido problemas para se concentrar? Sentiu a mente acelerada? Dúvidas e medos pipocando na cabeça? Uma leve sensação de que algo ruim ia acontecer? Se xingando por não estudar mais?
Soa familiar?
SOU SÓ EU?
Bem, você certamente não está só. Na verdade, você está em boa
companhia. Pablo Casals, Arthur Rubinstein e Luciano Pavarotti (para nomear
alguns) já contaram sobre ter de combater o medo do palco em vários momentos de
suas carreiras.
Se serve de consolo, nervoso é bem comum mesmo entre músicos
profissionais. Em uma pesquisa, 96% dos músicos de orquestra pesquisados
admitiram ficar nervosos antes de apresentações. Em outra pesquisa de 48
orquestras do ICSOM (International Conference of Symphony and Opera Musicians), 1 entre 4 músicos disse que esse nervoso era um problema pra eles.
“Ok, beleza, mas o fato de que Rubinstein lutava
contra o nervoso não vai me ajudar a passar num teste.”
Boa observação. Continue lendo.
ISSO NUNCA VAI SUMIR?
ISSO NUNCA VAI SUMIR?
Boa pergunta, e tenho boas e más notícias.
A má notícia é que a menos que você seja um robô, um zumbi, ou
simplesmente não dê a mínima, você provavelmente vai experimentar algum grau de
nervoso no palco. “O quê? Você quer dizer
que eu tenho que passar por esse sofrimento pelo resto da vida?”
Bem, a boa notícia é que não, você não precisa deixar os teus nervos te
controlarem. E você definitivamente não tem que sofrer.
Alguma vez você já teve uma performance onde tudo se encaixou, fez click? Onde se sentiu no total controle, tudo fluiu fácil, e soou lindo (pelo menos até o momento em que começou a pensar em como tudo estava indo tão bem)? Talvez você tenha ouvido referência a esse estado como “a zona”. Bem, esse estado mágico praticamente requer um certo grau de nervoso. Sem nervoso, sem zona.
Se você chegar num ponto da sua carreira no qual não sente nada, entra
no palco como se não houvesse diferença entre isso e andar no parque (apenas um
outro dia, um outro teatro, e você só fazendo o que tem que fazer), seu público
provavelmente não vai ter a melhor apresentação que você pode oferecer.
Deixe-me contar uma história pra ilustrar o que digo. No meu último ano de faculdade, alguns de nós estávamos nos preparando pra um concurso. Para dar uma oportunidade de passar um pouco do repertório, meu professor arrumou um pequeno concerto em um dos auditórios da escola.
Eu decidi tocar a peça mais difícil da minha lista – o concerto para
violino de Wieniawsky em Fa# menor. Para aqueles que não a conhecem, a peça
começa com décimas paralelas e dali para frente só fica mais complicada. Nem
precisa dizer que precisa de muita energia pra se manter focado durante os 3
movimentos. Particularmente nesse dia eu me sentia bastante bem sobre isso, mas
ainda sim muito nervoso. Não estava surtando, mas definitivamente um pouco
nervoso.
Quando foi minha vez de tocar, eu entrei no palco, sorri, e ao me virar
para olhar para a plateia, por um segundo, eu vi ninguém. O que? Era intervalo?
Espera, não. Sentadas no fundo à direita do auditório estavam 2 senhoras. Meu
pianista abafou uma risadinha.
Instantaneamente, meu nervoso sumiu e meu coração afundou. Eu não sabia o que fazer. Eu contemplei seriamente a ideia de dar meia-volta e sair do palco. No fim das contas era semana de provas finais, e eu estava cansado e acabado ao fim do longo semestre. Eu realmente não estava a fim de tocar esse monstro de peça para apenas 2 pessoas. Não via o porquê. Eu tentei ao máximo me importar, mas não conseguia.
Como resultado, a apresentação pareceu um ensaio casual com meu
pianista. Eu estava calmo, relaxado, e não senti nenhum tipo de nervoso. Então
como você imagina que foi? Você adivinhou. Eu soei bobo, sem inspiração, e no
fim, muito esquecível. O equivalente musical de salgadinho velho.
Meu ponto é o seguinte: se você quer que a tua performance realmente chegue no público e o pegue de jeito, você precisa de adrenalina para dar aquela explosão, aquele brilho que falta na sala de estudo. O problema não é a adrenalina em si, mas não saber como controlá-la, administrá-la e canalizá-la eficazmente nas suas apresentações. Mais sobre isso depois...
POR QUE A GENTE FICA
NERVOSO?
Então, por que ficamos nervosos em algumas situações e outras não? Se as
duas pessoas na plateia fossem Isaac Stern e Leon Fleisher, meu nervoso
provavelmente teria atravessado o teto. O quê dá isso?
Bem, o modelo de estresse biopsicosocial é provavelmente a melhor explicação
sobre o motivo de experimentarmos nervoso em apresentações.
“Ansiedade (nervoso) é o produto de um complexo e
dinâmico processo de análise cognitiva que ativamente equilibra a percepção de
recursos de um indivíduo, as demandas da situação, fontes de retorno internas e
externas antes, durante e depois de performances. A análise que alguém faz das
demandas de uma situação de desempenho (exemplo: dificuldade da tarefa,
consequências do fracasso, a alta expectativa dos outros, e a importância do
resultado percebida) são comparadas com suas características individuais únicas
(exemplo: eficácia própria, traços de ansiedade, nível de habilidade, grau de
preparação e experiência passada), resultando numa avaliação do grau em que
aquela situação apresenta uma ameaça.”
O quê isso tudo significa? Basicamente, teu cérebro tenta calcular as
probabilidades que você tem de quebrar tudo, ou de quebrar a cara. Se o teu
cérebro decide que provavelmente você vai se sair muito bem, você não vai ficar
nervoso. Talvez elétrico, animado, mas não nervoso.
Por outro lado, se o teu cérebro acha que tem uma boa chance de você se
estrepar, você vai definitivamente ficar nervoso. Simples assim.
Eis 2 cenários:
Cenário 1: Imagine
que está tocando uma peça tão fácil que você a tocaria perfeitamente mesmo
sendo acordado às 3 da manhã para isso, e a está tocando para um público que
vai amar não importa o que aconteça (digamos, seus avós). Acha que aguenta?
Bem, considerando que seria muito difícil falhar, e mesmo que o fizesse,
seus avós não iriam notar ou se importar, você provavelmente estaria super
confiante de poder lidar com a situação.
Cérebro diz: mamão com açúcar, sem problemas. Nada de nervoso para você.
Cenário 2: Agora
digamos que você está num teste de orquestra. Você está de saco cheio de
prestar teste, quase sem grana, e essa é a orquestra que o seu coração
escolheu. Porém, você sabe que tem mais 200 candidatos audicionando para a
mesma vaga. Você os ouviu aquecendo e, ô droga, eles soam horrorosamente bem.
Você não tocou muito bem nas últimas audições, nem teve tanto tempo pra estudar
quanto gostaria.
Bom, parece que você vai ter que tocar o seu melhor absoluto se quiser
se destacar do resto. Mas quais as chances disso acontecer, certo?
Cérebro conclui que esse é um conjunto de circunstâncias assaz
desafiador. Existe uma chance real de não seguir para a próxima fase, esquece
então a chance de chegar na final. Acha que vai ficar um pouco nervoso? Pode
apostar.
ENTÃO O QUE POSSO
FAZER SOBRE ISSO?
Deixe-me começar contando o que a resposta não é.
- Tentar não
ligar, não dar a mínima, não é a resposta (de qualquer jeito, boa sorte
tentando se enganar)
- Alguns
tomam suplementos como kava kava* (eu usei
algumas vezes, nem se dê ao trabalho).
- Muitos
experimentaram betabloqueadores como Inderal.
- Outros
tentam estratégias de relaxamento, meditação, yoga, etc.
- Eu
costumava ficar sem dormir na noite anterior, pensando que o meu cansaço
compensaria um pouco a adrenalina. Não faça isso – você só vai ficar
irritado além de nervoso.
- Tentei
tomar um monte de chá de camomila antes das performances, mesmo não sendo
muito de chá. Isso só me deixou paranoico sobre ter vontade de ir ao
banheiro na pior hora possível.
- Um amigo
disse que eu deveria comer banana, até tentei algumas vezes. Só me
embrulhou o estômago (não sou um super fã de banana).
- Outro
amigo me disse para comer peru, explicando que no peru tem o aminoácido
triptofano, que supostamente te deixa sonolento. Mmm, ok, mas quantos de
vocês está a fim de engolir umas bananas, peru e chá meia hora antes de
entrar para tocar? Ui.
É fato,
eu nunca vi evidência alguma de pesquisa dizendo que o potássio das bananas faz
alguma diferença no nível de nervoso antes de tocar, e se você vai se encher de
triptofano, seria mais eficaz comer claras de ovo (4x mais que o peru),
bacalhau (3x) ou queijo parmesão (2x) ao invés do peru. Mas aqui também, não vi
nenhuma evidência concreta de que o triptofano reduz o nervoso; te fazer tocar
melhor então, nem se fala. Claro que se você tiver conhecimento de algum estudo
que não conheço, por favor me mande uma cópia e ficarei feliz em dar uma
olhada.
“Mas espera! E todas aquelas pessoas que juram que as bananas, peru,
chá, etc. as acalmam? Como você explica a experiência delas?”
Na
realidade, elas provavelmente estão dizendo a verdade. Essas coisas
provavelmente as acalmam. Mas não por causa dos componentes químicos especiais
dessas comidas. Isso se chama Efeito Placebo. Estatisticamente, cerca de 1
entre 3 pessoas que experimenta algo irão jurar que funcionou – mesmo que tenha
sido algo completamente fictício. Wikipedia tem uma página legal sobre EfeitoPlacebo* se quiser ler mais sobre isso.
Mas aí é
que tá. Muita
gente presume que reduzir o nervoso da apresentação é uma coisa boa mas, na
verdade, isso é só um mito. Antes de começar a me mandar e-mails explicando
como eu estou errado, olhe para o seu histórico de performances. Tenho certeza
de que vai se lembrar de ocasiões em que você estava calmo demais e relaxado demais,
e como resultado viu o seu desempenho piorar.
Até mais gente (experts incluídos) acredita que uma quantidade moderada de nervoso é melhor, e que
muito ou muito pouco nervoso é ruim. Adivinha só? Isso também não é
completamente verdade. Não acredita em mim? Fique atento para um futuro artigo
que vai explicar tudo isso com mais detalhes. Até lá, aqui é o principal ponto
para-levar-para-casa.
O que você quer é tocar o seu melhor, certo? Reduzir o nervoso ou mirar
numa quantidade moderada de nervoso vai te deixar mais confortável, mas não necessariamente vai te fazer tocar melhor. Por
isso que tentar relaxar não é a resposta. O que você precisa é aprender como
controlar e canalizar seu nervoso em performances mais ativas e vigorosas.
Como faço isso?, você me pergunta.
AS 9 CHAVES PARA SE
TORNAR O SEU MELHOR
Nove diferentes formas, para ser específico:
1. Preparação: Aprenda como estudar certo
2. Administração de energia: Aprenda como controlar a resposta do teu
corpo à adrenalina
3. Confiança: Aprenda como aumentar a confiança
4. Coragem: Aprenda como tocar com coragem (versus tocar hesitantemente e se
preocupando com erros)
5. Concentração: Aprenda como desacelerar e recuperar o controle sobre a sua mente –
mesmo sob pressão
6. Foco: Aprenda como aquietar a mente, se focar para além das distrações e
permanecer no momento.
7. Resiliência*: Aprenda como se recuperar rápido de erros (para não cometer mais
erros)
8. Determinação: Aprenda como se manter motivado e implacavelmente perseguir seus
objetivos
9. Fator X: Aprenda como destrancar aquele não-sei-o-quê especial que faz toda a
diferença do mundo
Te ajudar a dominar essas 9 habilidades é fundamentalmente o assunto
desse site. Quando você desenvolver essas habilidades, não se preocupará mais
com o nervoso ou medo do palco. Talvez não esteja à vontade, mas não vai
importar. Suas apresentações falarão por si mesmas. E no fim das contas é isso
que interessa, certo?
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Dr. Noa Kageyama é um violinista que resolveu partir para a área da Psicologia da Performance e hoje integra o corpo docente da Juilliard School e New World Symphony em Miami, além de ministrar palestras e seminários pelas principais instituições de ensino de música nos EUA.
Tradução autorizada, por Helena Piccazio.
Tradução autorizada, por Helena Piccazio.
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Kava Kava: Planta originaria de perto do Oceano Pacífico com efeito sedativo, causando sonolência. http://en.wikipedia.org/wiki/Kava
Efeito Placebo: página em inglês, mais completa http://en.wikipedia.org/wiki/Placebo
Resiliência: significado
1. (Mecânica) Habilidade que um material tem para resistir ao choque;
2. (Física) Capacidade que um corpo tem de recuperar a sua forma original após ficar deformado ou sofrer um choque;
3. (Figurado) Competência para recuperar ou ultrapassar obstáculos e/ou situações adversas.
1. (Mecânica) Habilidade que um material tem para resistir ao choque;
2. (Física) Capacidade que um corpo tem de recuperar a sua forma original após ficar deformado ou sofrer um choque;
3. (Figurado) Competência para recuperar ou ultrapassar obstáculos e/ou situações adversas.
Parabéns pelo texto Helena.
ResponderEliminarConcordo plenamente, principalmente a preparação, confiança, concentração e resiliência (que sempre esperamos não utilizar, mas devemos saber lidar com isso quando acontece um erro).
Abraços.
Obrigada, Arthur! Que bom que você curtiu =)
ResponderEliminarGosto muito dos textos do Dr. Noa Kageyama e pretendo traduzir mais postagens dele para colocar aqui.
Abraços, Helena.
Texto que vale a pena ler e reler...
ResponderEliminarBrava! Helena! ótimo texto!
ResponderEliminarObrigada!
ResponderEliminarMuito interessante, essas dicas são muito uteis para mim.
ResponderEliminarTexto maravilhoso e muito importante. Parabéns!
ResponderEliminarMe ajudou muito, obrigado pelo texto
ResponderEliminarQue bom! =)
ResponderEliminarobrigada helena isso irá me ajudar no conserto de hoje a noite suas dicas são maravilhosas
ResponderEliminarps "eu não deveria ter comido banana"
Top Top o Texto
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