01/11/2016

O LADRÃO DE BISCOITOS

por Dr. Noa Kageyama, publicado originalmente no blog do site The Bulletproof Musician


O ladrão de biscoitos: um poema* sobre quão distraídos podemos ser e quão errados podemos ser.


foto encontrada aqui
O LADRÃO DE BISCOITOS
por Valerie Cox

Uma mulher estava esperando em um aeroporto, uma noite, com muitas longas horas antes de seu vôo. Ela foi à caça de um livro nas lojas dali, comprou um saco de biscoitos e encontrou um lugar para se sentar.

Ela estava absorta em seu livro, mas viu que o homem sentado ao seu lado, tão atrevido quanto poderia ser… catou um biscoito ou dois do saquinho entre eles, o que ela tentou ignorar para evitar uma cena.

Ela mastigava os biscoitos e observava o relógio, enquanto o intrépido ladrão tratava de diminuir o estoque de biscoito. Ela foi ficando cada vez mais irritada com o passar dos minutos, pensando: "Se eu não fosse tão legal, quebrava a cara dele."

Para cada biscoito que ela pegou, ele pegou um também, e quando sobrou apenas um ela se perguntou o que ele faria. Com um sorriso no rosto e uma risada nervosa, ele pegou o último biscoito e quebrou no meio.

Enquanto ele comia uma metade, ofereceu a outra, que ela catou da mão dele e pensou... “aaaaahhh, rapaz. Esse sujeito é cara-de-pau e também é mal-educado, porque ele nem sequer mostrou qualquer gratidão!"

Ela não lembrava de ter ficado tão exasperada na vida, e suspirou de alívio quando seu vôo foi chamado. Ela reuniu seus pertences e foi para o seu portão de embarque, recusando-se a olhar para trás para aquele ladrão ingrato.

Ela entrou no avião, afundou em sua cadeira e procurou seu livro, que estava quase terminando. Enquanto mexia na bolsa, ela engasgou com surpresa, ali estava o seu saco de biscoitos, diante de seus olhos.

"Se o meu está aqui - ela gemeu em desespero - o outro era dele, e ele tentou dividir." Tarde demais para se desculpar, ela percebeu com tristeza que a mal-educada era ela, a ingrata, a ladra.

Quantas vezes você já esteve absolutamente convencido de algo, só para descobrir mais tarde que estava enganado?

Talvez você estivesse seguro de ter colocado suas chaves na mesa de jantar, mas as encontrou no bolso da calça. Ou você tinha certeza de que foi mal em uma prova, mas acabou tirando um 8.

A maioria de nós têm uma tendência a errar para o lado do pessimismo, justificando esta atitude alegando que ela é mais “realista”, e dizendo que não queremos criar expectativas altas e nos decepcionar. Infelizmente, a gente não se faz nenhum favor ao agir assim. Quero dizer, pense nisso: por que queremos apostar contra nós mesmos? Será que ser pessimista nos torna mais determinados, persistentes, focados, calmos sob pressão, entusiasmados, resilientes, e conduz a performances mais dinâmicas? É... nem tanto.

A gente é horrível em prever o futuro 

Além disso, quando se trata de futuro, nós tendemos a ser muito ruins em preve-lo. Quem pensou que Duke jogaria contra Butler na final da NCAA? Quantas pessoas pensaram que Arnold Schwarzenegger um dia seria governador da Califórnia?

O ex-astronauta da NASA John Glenn (o primeiro americano a orbitar a Terra), disse uma vez (e eu parafraseio) que ele criou o hábito de perguntar a si mesmo: "Por que não?", explicando que porque nenhum de nós realmente sabe o que é possível, por que não abrir nossas mentes para a possibilidade de que podemos ser capazes de algo loucamente impressionante?

Você poderia ser uma sensação internacional do YouTube? Por que não?

Você poderia começar sua própria gravadora? Por que não?

Você poderia entrar na Filarmônica de Berlim? Por que não?

Chave para o sucesso

Um dos achados mais frequentes na literatura de psicologia do esporte é a ligação entre a auto-confiança e sucesso. Eu imagino que isso acontece porque os indivíduos auto-confiantes tendem a ser terrivelmente persistentes. Quão persistente, quão auto-confiante você pode ser se tem uma atitude pessimista sobre suas possibilidades disponíveis?

Moral da história - não tire conclusões precipitadas sobre o que acredita que é impossível para você... não seja um ladrão de biscoito.

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* O original da história em inglês foi escrito em forma de poema mesmo.

Dr. Noa Kageyama é um violinista que resolveu partir para a área da Psicologia da Performance e hoje integra o corpo docente da Juilliard School e New World Symphony em Miami, além de ser convidado das principais instituições de ensino de música nos EUA, ensinando músicos como tocar o seu melhor sob pressão através de aulas ao vivo, treinos e um curso on-line.

Tradução autorizada, por Helena Piccazio.

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