Em 2009, eu estudava num conservatório mais para o sul da Flórida numa cidade pequenininha, e foi nessa época que um colega me perguntou “tem uma senhora que está procurando professor de música de câmara, você quer?”
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Depois de uma breve conversa ao telefone com a tal senhora, aceitei a empreitada. Marcamos um dia, peguei o trem para a próxima cidadezinha, onde ela morava. Na estação, ela já estava à minha espera e partimos em seu carro. E pude observá-la melhor, uma senhora toda enrugada, doce, bem branquinha de cabelos pintados de castanho escuro, batom rosa choque, muito simpática.
A casa era um apartamento no andar térreo de um predinho perto do mar sem praia, numa vizinhança bem bonita. O apartamento pequeno e aconchegante, cheio de móveis antigos e lembranças nas paredes. Casa de vó. E um piano de armário perto da varanda, em cuja estante estavam edições novinhas de sonatas para violino e piano de Mozart e Beethoven.
Fomos tocar. Era difícil porque muito do ritmo ficava prejudicado por conta da falta de técnica dela. Escolhemos uma das músicas (um Mozart) e começamos a trabalhar.
Reconhecíamos juntas onde estavam os nós e quais eram as dificuldades, e eu sugeria modos de entender, estudar e consertar. Aos poucos, ela foi aprendendo a usar o metrônomo - que inicialmente detestava! -, e se mostrava mais aberta a aprender a cada encontro (2 vezes por mês). E estudava. E melhorava!
Alguns poucos meses depois, a doce senhora tocava melhor! Pudemos começar a Sonata Primavera, do Beethoven. Seu ouvido estava se abrindo para outros aspectos da música e já era mais fácil tocar com ela, conseguíamos tocar pedaços bem maiores das sonatas e nos divertíamos muito mais.
Esses encontros duraram até eu me mudar de lá para estudar em outro país. Mas carreguei comigo a lembrança da felicidade nos olhos dela quando tocávamos, ou quando ela conseguia vencer um desafio, aprender uma coisa nova. Levei também a lição que foi vê-la aprendendo e melhorando. Sim, porque nós todos podemos aprender e melhorar enquanto ainda estivermos vivos.
Obrigada.
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Texto de Helena Piccazio
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