por Dr. Noa Kageyama, publicado originalmente no blog do site The Bulletproof Musician
Foto de Nobuyuki Taguchi |
Quão confiante você é como intérprete? Você entra em
audições ou performances certo que vai tocar o seu melhor - e toca assim desde a
primeira nota? Ou você se engalfinha com dúvida e ansiedade (talvez até dias ou
semanas antes), e tende a começar sua performance com hesitação?
Se você for como a maioria dos músicos, você
provavelmente se encaixa na segunda categoria com mais frequência do que
gostaria. E além de uma sensação desagradável, essa também é uma má estratégia
para o sucesso no palco.
EQUÍVOCOS SOBRE A
CONFIANÇA
A boa notícia é que confiança é algo que você pode
mudar - e na verdade você tem uma boa dose de controle sobre o seu nível de auto-confiança.
Isto pode ser uma surpresa para você, pois muitos acreditam que a confiança é
em grande parte um traço de personalidade, que você tem ou não tem. Outros
pensam que só o sucesso ou o feedback
positivo pode construir confiança, e que você não pode errar ou experimentar um
"fracasso" se você quiser se tornar mais confiante. Pessoalmente
falando, eu costumava achar que qualquer falta de confiança que eu tivesse era
simplesmente a necessidade de estudar mais.
Bem, acontece que todos estes pensamentos são apenas
equívocos. Muitos músicos sofrem bastante com auto-dúvidas e inseguranças,
apesar do grande sucesso. Também conheço músicos que não eram os mais
talentosos, mas que ultrapassaram todas as expectativas porque sua confiança em
si mesmo nunca vacilou. E com relação a “apenas estudar mais”, a maioria de nós
já sabe que isso por si só não significa necessariamente o aumento da nossa
confiança.
E aí você pergunta: O que fazer para se tornar mais
confiante?
SEGREDOS PARA SE
TORNAR UM PERFORMER CONFIANTE
Uma das chaves para se tornar um músico mais confiante
é dominar seu diálogo interno.
Diálogo interno (ou Self-talk) é o termo usado pelos psicólogos para descrever justamente
o diálogo que se tem consigo mesmo durante todo o dia. Você deve saber, aquela voz que xinga
de desastrada quando batemos o dedinho do pé na quina da cama, ou de idiota distraído quando voltamos do mercado e percebemos que esquecemos a única coisa que fomos
lá buscar. Algumas pessoas falam em voz alta ou murmuram para si mesmas, outras
mantêm tudo dentro de si, mas todos nós temos essa voz dentro da cabeça, que geralmente
é muito difícil de desligar.
Bem ou mal, tendemos a nos dar ouvidos e acreditar nas
coisas que nos dizemos. Se você disser a si mesmo que é um fracasso e uma
mula sem talento, e o fizer repetidamente, você vai
começar a acreditar que é realmente um fracasso. Logo você começará a se sentir
um fracasso, e, finalmente, a agir de maneira que irá confirmar esta percepção
de si mesmo, "provar" que é realmente um fracasso.
XIU... SEU
SUBCONSCIENTE ESTÁ OUVINDO...
Tenha em mente que o seu subconsciente está ouvindo
tudo o que você diz a si mesmo, e que ele não tem filtro. Vai acreditar em cada
palavra, e ao longo do tempo, aceitar incondicionalmente as mensagens mais frequentes
como realidade – sendo isso verdade ou não. Não importa se você está só brincando,
ou se não acredita verdadeiramente nas coisas que diz para si mesmo. O seu
subconsciente não tem senso de humor, e é completamente literal. E bem ou mal,
a sua auto-confiança (ou falta dela) reside no que o seu subconsciente acredita.
Nós todos já nos frustramos com
computadores uma vez ou outra, porque eles são tão literais. Eles não se importam com que queríamos que ele tivesse feito, apenas com
o que lhe dissemos para fazer.
O seu computador interno não sabe ou não se importa com
o que você realmente quer dizer com "Eu nunca vou ser capaz de tocar bem
essa peça.". Ele não sabe se você realmente não tem a capacidade de tocar
esta peça, se só precisa trabalhar mais, ou talvez apenas deixar a peça um
tempo em banho-maria. Seu subconsciente só ingere a frase, e com o tempo, você passa
a acreditar que nunca vai ter a capacidade de tocar essa peça. Você terá uma
tendência a agir de acordo esta convicção, talvez estudando sem entusiasmo,
pensando com menos criatividade, e desistindo mais fácil ao se sentir empacado.
Eventualmente, você vai descobrir que, exatamente como previu, você tem
problemas com esta peça. Isso é chamado de profecia auto-realizável, e nos
sabotamos (até mesmo em nossas vidas fora da música) criando novas profecias auto-restritivas
o tempo todo.
Se você quer se sentir,
agir e ser mais confiante, você deve primeiro tomar o controle da sua
mente e começar a pensar como uma
pessoa confiante.
Como se aprende a pensar como uma pessoa confiante? A
maioria de nós não está verdadeiramente ciente do que dizemos a nós mesmos,
especialmente durante o estudo ou execução. O primeiro passo é identificar e
anotar esses pensamentos.
IDENTIFICAR DIÁLOGO
INTERNO
A vasta maioria dos pensamentos que a mente gera
quando estamos sob pressão são inúteis. Eles são muitas vezes irrelevantes
("Hmm... O que vou comer no jantar?"), excessivamente analíticos
("Mantenha o polegar estendido, dedos leves, traz o cotovelo, ombro para
baixo...") ou auto-destrutivos ("Ô-ôu, aí vem aquele pedaço que eu errei
nos ensaios ").
Tenha em mente que seu cérebro tem uma capacidade fixa
de atenção, o que significa que você só consegue prestar atenção a um tanto de
coisas ao mesmo tempo. Por exemplo, tente convencer o seu parceiro que você realmente
está ouvindo o que ele/ela está falando, mesmo que você esteja com os seus
olhos grudados na TV. Acha que ele/ela vai acreditar? Sem chance, certo?
Então, se o seu cérebro processa apenas uma certa
quantidade de dados de uma vez, você pode optar por preenchê-lo com coisas
úteis ou coisas nocivas. É como fazer o orçamento de uma quantidade limitada de
dinheiro - por que desperdiçar dinheiro em coisas que não precisa ou não quer,
se você só tem uma quantidade limitada?
Da mesma forma, você pode usar a sua limitada “moeda
de atenção” em pensamentos que ajudam na construção de
confiança e sucesso, ou em pensamentos que destroem a confiança e levam ao
fracasso. Não há nenhum pensamento neutro, assim como não há nenhuma compra
neutra com o seu dinheiro. Ou você compra algo que você realmente quer, ou algo
que limpa sua conta bancária e te deixa ainda mais longe de comprar o que você
quer.
Como evitar essa auto-destruição da mente? O primeiro
passo para reprogramar sua mente é identificar o que está sendo programado
atualmente.
DIÁRIO DO DIÁLOGO
INTERNO
Uma das maneiras mais eficazes de identificação de
seus pensamentos é criar um diário de diálogo interno.
Passo 1: Das peças que você
está estudando, escolha uma que seja um bom desafio.
Passo 2: Prepare um gravador
e comece a gravar.
Passo 3: Toque por cerca de
5 minutos, mas toda vez que você tiver um pensamento, faça uma pausa e diga em
voz alta (exatamente o que pensou) para que você possa gravá-lo.
Passo 4: Quando terminar
pegue um caderno e desenhe uma linha vertical no meio da página, e transcreva
todos os pensamentos que você gravou no lado esquerdo da linha.
Agora, dê uma olhada em todos os pensamentos que você
anotou. Conte-os. Quantos pensamentos sua mente gerou nos cinco minutos? Poucos?
Muitos?
Quantos deles foram críticos, desencorajadores,
irrelevantes, distrações, e o tipo de observação que você nunca faria a um
amigo? Você se insultou ou fez ataques pessoais ("Você é uma besta!")?
Conseguiu manter sua mente fincada no presente, ou seus pensamentos se
demoraram nos erros ou mesmo reviram incidentes passados com o mesmo erro
("Por que eu sempre desafino
essa nota?")? Seus pensamentos se voltaram para o futuro (por exemplo,
"Meu Deus, lá vou eu de novo; eu nunca
vou ser capaz de tocar esta parte.")?
Por outro lado, quantos de seus pensamentos foram
relevantes, de apoio e úteis para o seu desempenho? Pensamentos de reforço, ou lembretes
da sensação e do som que têm a técnica correta e os resultados desejados - como
"mudanças de arco fluidas", "manter o fluxo de ar",
"ooh, bom glissando, incrível!", ou "sustente",
"sussurro", etc? Foram poucos desse tipo, e distantes entre si?
ALTERANDO SEU DIÁLOGO
INTERNO
Agora é hora de começar a mudar seus padrões de pensamento
e torná-los mais propícios para construir confiança e sucesso em suas
apresentações no futuro.
Dê uma olhada em todos os pensamentos autodestrutivos
que anotou. Você verá que esses pensamentos tendem a se basear no passado ou
futuro – e você não tem controle sobre nenhum deles no momento. – Pensamentos
do tipo “fracasso” também são improdutivos porque não te ajudam de nenhum
jeito. Tudo o que fazem é te fazer sentir pior sobre si mesmo.
Um a um, comece a reescrever os pensamentos negativos de
uma forma mais construtiva, de apoio ou de melhora na coluna da direita.
Aqui estão alguns exemplos.
Pensamento
Tipo-Fracasso
|
Pensamento
Tipo-Sucesso
|
Não adianta nada estudar. Fulano De Tal é bem mais talentoso que eu.
|
Tem muitas pessoas de sucesso que tiveram que trabalhar duro pra
chegar onde estão. Eu posso ser uma delas se eu estudar do jeito certo.
No fim das contas, não se diria que o sucesso é 99% transpiração e 1%
inspiração se não houvesse nenhuma verdade nisso.
|
&%#$@!!! Porque eu sempre corro nesse pedaço e erro ele inteiro? Eu
estrago tudo!
|
Ei, calma. Mesmo os melhores cometem erros. Se foque de novo e vá em
frente.
Mais tarde você terá bastante tempo pra entender o que aconteceu.
|
O diálogo na coluna direita parece piegas ou falso
para você? Talvez seja, mas a ideia é chegar a pensamentos que te ajudem a se
sentir mais positivo, e, finalmente, manter o movimento em direção ao sucesso.
Da próxima vez que você se ouvir entrando num pensamento tipo-fracasso, salte
sobre ele imediatamente e "reescreva-o" com pensamentos mais
animadores.
Por que isso é tão importante?
É assim que as pessoas interessadas em ser seu melhor
possível pensam. É assim que os vencedores
pensam.
A psicóloga social Barbara Frederickson escreveu um
livro sobre sua pesquisa, que sugere que as pessoas que experimentam emoções
positivas em uma proporção de 3 para 1 em relação às negativas, eventualmente chegam
a um ponto de virada "para além do qual eles se tornam naturalmente mais
resistentes à adversidade e alcançam sem esforço o que antes só podiam
imaginar."
Faça-se mais consciente de seu diálogo interno,
aprenda a pensar mais como se fosse o seu melhor amigo, e você com certeza vai se
sentir - e tocar - com mais confiança.
Kwabana Lindsay tocando violino enquanto anda na corda bamba.
______________________
Dr. Noa Kageyama é um violinista que resolveu partir para a área da Psicologia da Performance e hoje integra o corpo docente da Juilliard School e New World Symphony em Miami, além de ser convidado das principais instituições de ensino de música nos EUA, ensinando músicos como tocar o seu melhor sob pressão através de aulas ao vivo, treinos e um curso on-line.
Tradução autorizada, por Helena Piccazio.
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